Ator e diretor de cinema, Werner Shünemann que nos últimos anos vem se destacando também na televisão, representa no filme Miguel em 2004. Miguel torna-se deputado federal, forma que encontra de viver a política nos dias de hoje. Seu reencontro com Jorginho vai provocar uma reflexão e um balanço dessas duas vidas – e num certo sentido da história desses dois mundos - nos últimos 30 anos.



O que mais te marcou no filme?

Quando a Lúcia Murat me entregou o roteiro, me chamou muita atenção a qualidade dos diálogos, a maturidade dos personagens. Acho que "Quase Dois Irmãos" foi feito para o espectador. Tenho muito orgulho de ter feito esse filme. Ele inaugura um olhar sobre esse período do Brasil que, na maioria das vezes, é pouco visto, pouco discutido. Além disso, é interessante ressaltar como, no filme, foi utilizada a experiência particular de algumas pessoas sobre a ditadura militar no Brasil para enriquecer a narrativa.

É sobre essas pessoas que "Quase Dois Irmãos" trata, sobre os presos-políticos e seus ideais. O filme toca na extensão política e ideológica que os anos de tortura e autoritarismo provocaram não só no sistema penitenciário, bem como em toda a sociedade brasileira. Para mim é fundamental participar de um filme que leva para as telas uma história que milhares de brasileiros não fazem a menor idéia de ter existido.

Fale um pouco do Miguel, personagem que você representa.

Procurei compreender o que aconteceu na cabeça do Miguelzinho para que todo o radicalismo se transformasse em radicalidade. O ativista político se transformou num deputado que incorpora mais de observação do outro. Acho muito bonito.

No processo é possível perceber como a reflexão foi enriquecendo o personagem. Pelos diálogos dele com o Antonio Pompeu na cadeia, percebe-se como eles crescem ampliando o horizonte para algo que lhes era estranho. Acho que isso é o grande segredo da civilização, não a regra, mas a tolerância.

O Miguelzinho me é muito familiar e nesse sentido, foi fácil fazer o personagem. Para mim, ser ator de cinema é a melhor profissão do mundo. Até hoje eu não tive um dia igual ao outro no cinema. Isso, para uma pessoa inquieta como eu é uma dádiva. Esses milhões de possibilidades, as multidões que carregamos dentro da gente. O ator conhece alguns truques para cavar a multidão e trazer para fora. E é por isso que não existe lugar melhor que o set de filmagem para estimular o processo de criação.