Uma das grandes damas do teatro, da televisão e do cinema brasileiro, Marieta Severo interpreta a mãe de Miguel, D. Helena. Única atriz que desempenha o mesmo personagem em duas épocas distintas no filme. Nos anos 70, sua grande preocupação é com o filho Miguel, preso político em Ilha Grande. Já em 2004, sua atenção vai para a neta, Juliana envolvida com o morro. Matriarca, nas duas situações, defende acima de qualquer discurso, sua família.



Fale um pouco sobre seu personagem

O personagem que faço tem três momentos. No primeiro, ela aparece bem jovem, e já mostra um pouco de sua vida, situa o personagem com seus pensamentos, sua criação e seus anseios. Depois, o filme mostra ela já madura, e eu vejo ela arrastada pelos acontecimentos, através do envolvimento político do seu filho, ela tenta não fazer parte desse contexto mas acaba por ser “obrigada” em função do Miguel. No outro momento, ela passa a ser arrastada por sua neta, então ela passa por outros tipos de preocupações, com as drogas, o tráfico, enfim, uma abordagem muito moderna, contemporânea, que é a realidade que vemos com os jovens de hoje.

O mais interessante do meu personagem, é que em todos os momentos do filme, ela é arrastada pelos acontecimentos, ela modifica sua vida em função de sua família, ela não exerce força sobre sua realidade, ela não é a dona de seu destino, mas ao final do filme a frase dita por ela, simboliza esperança, o que é muito interessante, porque ela tem uma força, mas não tem consciência dessa força. Ela mostra a esperança, tanto que sua neta se refugia nela, e eu acho isso muito bonito.

Fale um pouco sobre o filme, o que te marcou, como você vê o filme

Eu gosto muito do filme. Ele conta a nossa história, com uma narrativa dinâmica, e principalmente sobre o ponto de vista humano, através de dois personagens. A Lúcia consegue trazer essa história mais próxima de nós. Acho que fala muito do que aconteceu no nosso país nesses últimos quarenta anos. Através da construção do roteiro, e principalmente da montagem, representa, com esses dois personagens, esse encontro de dois mundos. Acho um filme tocante, marcante, seja no encontro de seres humanos, seja por essa trajetória, enfim, um filme que interessa muito ao espectador.